sexta-feira, 22 de junho de 2012

O AFASTAMENTO DE LUGO, LEGALIDADE X LEGITIMIDADE: QUASE TUDO DEPENDE DO POVO PARAGUAIO

            O Presidente eleito do Paraguai, FERNANDO LUGO MÉNDEZ, foi afastado, por impeachment, após a ruptura da aliança que ele mantinha com o Partido Liberal, legenda de seu vice-presidente Federico Franco.
            Ora, as reações são diversas sobre em relação às decisões tomadas por duas casas legislativas, que se encontravam respaldadas na Constituição da República Paraguaia, em seu art. 225, o qual estabelece que o Presidente da República pode ser submetido a impeachment (juicio-politico) por “mau desempenho de suas funções, por delitos cometidos no exercício de seus cargos ou por delitos comuns”, a partir de acusação formulada por 2/3 da Câmara dos Deputados e processado e julgado pelo Senado, onde a acusação para ter provimento necessita também de contar com, no mínimo,  dois terços de votos  dos senadores.
            O libelo acusatório foi elaborado pela Câmara dos Deputados, aprovado e remetido ao Senado, onde foi recebido e provido por mais de 2/3 do Senado.
            Portanto, em termos legais, Fernando Lugo Méndez foi cassado com base na lei, na constituição, houve cumprimento da lei.
            Até então legal, mas, quando se vê perante o que prevê até a Carta de Direitos Humanos, nota-se que o direito de defesa foi prejudicado, somente foi dado o prazo de 24 horas para formular sua defesa. Mas, o Senado poderia dispor assim. Legal?
            Mas, a coisa muda mesmo de figura quando buscamos as raízes históricas destas decisões tomadas pelas duas casas do Poder Legislativo paraguaio. Vamos encontra a  ilegitimidade, a antidemocracia, a submissão aos interesses das classes abastadas, o monopolitismo político de pessoas que dirigem o centro do poder desde o início da Ditadura Strossner.
            A maior motivação de oposição ao Governo de Lugo era a sua  inversão de prioridades, num país onde até a sua posse predominava o interesse do imperialismo, da classes empresariais e dos latifundiários, e, Lugo tinha a ousadia de defender maiores interesses e anseios das classes trabalhadoras.
            Aproveitando o fato que conseguiram maiorias nas casas legislativas a direita submetida e parte dos interesses das classes abastadas, não fez por menos; passou a  atacar medidas de aproximação com os jovens encetadas pelo Governo.
Tanto que uma das acusações a Lugo decorre do apoio dado em 2009 (não agora), a um encontro de jovens socialistas que utilizaram de espaço pertencente ao Exército para se reunir.
Tachar alguém de incompetente por um ato de 2009, só tomando decisões agora, fica claro quem é de fato incompetente?
Outra acusação, reside na afirmação de que ele não reprimira movimentações de sem terras.
A terceira acusação é que teria o presidente omitido, apesar de aportes financeiro, na repressão ao que os congressistas declaram ser o “Ejercito del Pueblo Paraguayo”, além disto, acusam que o Presidente teria vínculos passados com outras organizações populares.
           Há ainda a acusação de ter firmado, em dezembro de 2011, o Protocolo de Ushuaia (Carta Democrática do Mercosul), que originou de documento da Unasul (União das Nações Sul-americanas), o qual a acusa a Câmara dos Deputados ser um documento para os presidentes se autodefenderem. Os poderosos parlamentares entendem o documento como sendo um crime de traição à pátria.
            Acusa ainda o presidente de ter permitido conflito que resultou em 17 mortes. E, num recurso de retórica  afirma que Lugo  representa o mais nefasto para o povo paraguaio,  que “chora a perda de vidas inocentes, devido a criminosa negligência e desidia do atual Presidente da república que, desde que assumiu a condução do país, governa promovendo o ódio entre os paraguaios, a luta violenta entre pobres e ricos, a justiça pelas próprias mãos e a violação do direito de  propriedade, atentando desse modo permanentemente contra a Carta Magna, às instituições republicanas e o Estado de Direito.”.
            As acusações são genéricas e sem comprovação técnica de onde estaria a responsabilidade do presidente, como foi alegado pela defesa. Também não traz quais foram efetivamente os atos omissivos ou ativos que justificariam as acusações.
            Ora, nota-se que pelas acusações políticas ou não são contemporâneas ou estão eivadas pelo princípio implícito de que os pobres não podem se organizar e nem reivindicar. Tudo leva a entender que predomina a visão dos parlamentares que todo movimento social é criminalizável.
            Ora,  tudo nos leva a compreender que se trata de um armação da direita para afastar os segmentos, camadas e classes populares do poder político. Parte popular da sociedade civil que deu fundamental apoio para a eleição de Fernando Lugo Méndez, surpreendendo à poderosa  elite política conservadora.
            Mas, o principal ator para os desdobramentos políticos não somos nós brasileiros, nem os membros da diplomacia, mas, sim a população trabalhadora paraguaia.
            Se as classes, camadas e grupos populares se curvarem, ficarem passivos,  acorvadados ou acomodados perante o poder e a demagogia das elites conservadoras, o futuro não contará com apoio internacional por uma verdadeira linha democrática para o Paraguai.
            Por outro lado, se houver uma significativa mobilização da sociedade paraguaia contra o afastamento do presidente, com manifestações de peso, com demonstrações das injustas ações dos parlamentares, o quadro de apoio da militância em outros países tende a receber uma inflexão no mesmo sentido, inclusive com tomadas de posição ofensivas nos organismos internacionais.
Sabemos, que, neste enfrentamento, haverá a repressão, como já ocorreu hoje próximo ao parlamento e em sucessão ao ato de afastamento do Presidente, como parte de uma orquestração da direita violenta.
            Por isso, entendemos que os paraguaios que dirão para onde irá o Paraguai e não nós, a não ser que sintamos o clamor deles.